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Sempre Com o Bispo

Updated: Jul 26

Carlos Eduardo Carneiro Costa Hermeto | Formado em Filosofia e graduando em Teologia pelo universidade PUC-RIO.





No santo Evangelho encontra-se a consoladora promessa de vitória do triunfo incondicional da Igreja sobre os poderes infernais: “tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as portas do inferno[1] nunca prevalecerão sobre ela.[2]”. As chaves entregues a São Pedro atribuíram ao seu ministério apostólico um onipotente auxílio divino que lhe garante o triunfo sobre todas as adversidades. Dom imerecido que veio acompanhado de uma mudança de nome, de Simão (Σίμον) para (Πέτρος) – pois os nomes dados por Deus nas Escrituras revelam também uma missão. O príncipe dos apóstolos deve ser a pedra sobre a qual toda Igreja deve edificar sua construção. Com certeza tal afirmação reinsere o leitor no final do sermão das bem-aventuranças: “sopraram os ventos e deram contra aquela casa, mas ela não caiu porque estava alicerçada sobre a pedra (Πετραν)[3].” São Pedro é evidentemente a pedra segura na qual todo fiel deve edificar a casa da sua vida espiritual.

 

Dogmaticamente cabe-se recordar que o Apostolo Pedro, tendo sida já recebido pelos apóstolos como a referência do corpo apostólico, como bem mostra o Evangelho Joanino[4] e sendo martirizado como Bispo de Roma, dignificou o trono da cidade eterna com o seu sangue. De tal modo que todos que o sucedem na Cátedra de Roma, recebem também por sucessão a missão pontifícia de guardar as chaves entregues por Cristo. Este mistério de fé e amor da eleição petrina, foi sendo concebida pelos Padres e da Igreja e pelo Magistério ao longo dos séculos até os mais recentes concílios, assim por exemplo ensina o Vaticano I na constituição Pastor Aeternus:

 

“Foi, portanto, este carisma da verdade e da fé indefectível, concedido divinamente a Pedro e a seus sucessores nesta cátedra, a fim de que desempenhassem seu sublime encargo para a salvação de todos, para que assim todo o rebanho de Cristo, afastado por eles do pasto venenoso do erro, fosse nutrido com o pábulo da doutrina celeste, para que assim, removida qualquer ocasião de cisma, se conservasse unida a Igreja toda e, apoiada no seu fundamento, se mantivesse firme contra as portas do ínfero.” (DENZINGER; HÜNERMANN, 2005, n. 3071)

 

Um importante expoente teológico neste sentido é o grande Santo Inácio de Antioquia, ele não só colaborou com uma teologia sobre a espiritualidade do martírio como frequentemente é lembrado em seus dizeres: “Sou trigo de Deus, e serei moído pelos dentes das feras, para que me apresente como trigo puro de Cristo.”[5]. Mas a maior parte de suas cartas exortam a respeito da importância da unidade da Igreja, que melhor se expressa pela unidade com o Bispo: “Não façais nada sem o bispo [...] fugi das divisões sede imitadores de Jesus Cristo, como ele também é do Pai.”.[6] Ou de modo mais radical: “Quem respeita o bispo, é respeitado por Deus; quem faz algo às ocultas do bispo, serve ao diabo.”[7].

 

Santo Inácio ainda nos primórdios da Igreja (séc. I-II), quando o dogma da autoridade petrina não estava estabelecido, concebeu em germe que o coração de cristo pulsava em Roma, e de Roma circulava o sangue da ortodoxia para toda a Igreja. Belos são os elogios a Igreja de Roma em sua famosa saudação na carta ad Romanos, “à Igreja querecebeu a misericórdia, por meio da magnificência do Pai Altíssimo e de Jesus Cristo [...] à Igreja amada e iluminada [...] digna de pureza, que preside ao amor, que porta a lei de Cristo, que porta o nome do Pai.”[8]. Ficando claro que a sede de Pedro possui pela misericórdia e pela eleição de Deus uma primazia dentre todas as demais em presidir ao amor e em portar a jurisdição a lei divina aos homens.

 

Todo esse ensinamento deve repercutir vivamente na vida de fé dos fiéis frutificando um amor concreto e sobrenatural ao Papa, aos bispos e aos presbíteros. Amar incondicionalmente a hierarquia da Igreja é um ato de fé de altíssimo mérito espiritual que está fundamentado nas Escrituras, nos Padres, na vida dos santos, em suma no magistério. Deve-se recordar que o ministério de todos os bispos, presbíteros e em última instância toda autoridade eclesial está sobrenaturalmente vinculada ao coração de Pedro na sede romana.“Na ordem sobrenatural os superiores hierárquicos são: o Sumo Pontífice, cuja autoridade é suprema e imediata sobre a Igreja universal; os bispos, que tem jurisdição em suas respectivas dioceses e, sob sua autoridade, os párocos e vigários”.[10] Assim afirma Pio XII na encíclica Mystici Corporis:

 

Os bispos não só devem ser considerados como membros mais eminentes da Igreja universal, pois que se unem com nexo singularíssimo à cabeça de todo o corpo, e com razão se chamam "os primeiros dos membros do Senhor",mas nas próprias dioceses, como verdadeiros pastores, apascentam e governam em nome de Cristo os rebanhos que lhes foram confiados; ainda que nisto mesmo não sejam plenamente independentes, mas estão sujeitos à autoridade do romano pontífice, de quem receberam imediatamente o poder ordinário de jurisdição que possuem. (DENZINGER; HÜNERMANN, 2005, n. 3804)

 

 É comum aos mestres espirituais atestarem a grandiosidade da virtude da obediência[11], ela está intimamente ligada a humildade e inclusa nos conselhos evangélicos. Santo Tomás de Aquino, que afirma que depois da religião a obediência é a virtude moral mais perfeita, porque nos faz desapegarmos de nós mesmos o que facilita o cumprimento de toda vontade divina.[12] No mesmo sentido, Adolphe Tanquerey, em seu Compêndio de Ascética e mística reforça a importância deste ato sobrenatural de obediência à hierarquia da Igreja. Para ele, as almas avançadas são aquelas submetem interiormente a sua vontade mesmo que esteja contrariada à vontade do superior.[13] E os perfeitos por sua vez em um ato místico de amor: “submetem o juízo pessoal ao do superior, sem sequer examinar as razões por que as manda.”.[14]

 

Portanto quando Santo Inácio invoca por tantas vezes o seu conselho insistente de vida espiritual “nada sem o Bispo” disto se pode retirar uma via positiva de crescimento espiritual: “tudo com o Bispo”. Ou seja, tudo que fizermos em união com o Santo Padre nos garantirá a vitória sobre as portas do inferno. Se por um lado o evangelho atesta que “Todo reino dividido contra si acaba em ruína”[15], a dogmática e a teologia espiritual ainda nos instrui que a Igreja edificada sobre a pedra, em unidade e obediência, permanecerá sempre de pé.


[1] Hades na tradução: BÍBLIA DE JERUSALÉM. Edição revista e ampliada. São Paulo: Paulos, 2013.

[2] Mt 16, 18

[3] Mt 7, 25

[4] Jo 20, 1-10; Jo 21, 15-17

[5] INÁCIO DE ANTIOQUIA, Padres Apostólicos, Inácio aos Romanos, p. 105.

[6] INÁCIO DE ANTIOQUIA, Padres Apostólicos, Inácio aos Romanos, p. 112.

[7] INÁCIO DE ANTIOQUIA, Padres Apostólicos, Inácio aos Esmirnionitas, p. 112.

[8] INÁCIO DE ANTIOQUIA, Padres Apostólicos, Inácio aos Filadelfienses, p. 103.

[10] TANQUEREY, A., Compêndio de Teologia Ascética e Mística, p. 429, pt. 1060.

[11] Definição: “A obediência é uma virtude moral sobrenatural, que nos inclina a submeter nossa vontade à dos superiores legítimos, enquanto representantes de Deus.”

[12] STh II-II, q. 104, a.3

[13] TANQUEREY, A., Compêndio de Teologia Ascética e Mística, p. 429, pt. 1063.

[14] TANQUEREY, A., Compêndio de Teologia Ascética e Mística, p. 429, pt. 1064.

[15] Mt 12, 25

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